Costumo gostar de escrever em primeira pessoa, apesar de a alma jornalística ser a de querer narrar os fatos e mostrar a realidade através de uma janela para o receptor sempre em terceira pessoa, sinto que é com a minha bagagem sempre clara no texto que eu enriqueço as informações que chegam a quem me lê.

Mas hoje, quando me pegava pensando na pauta do próximo texto deste blog, me perguntei se eu realmente tinha algo importante a falar. Que responsabilidade ter quinzenalmente um assunto que julgo que as pessoas devam saber, debater ou se aprofundar.

Ahhh a mágica jornalística de selecionar pautas que realmente sejam importantes, de interesse público, como chamamos, mas, além disso, que sejam relacionadas ao interesse do público da Bebotê, afinal são vocês que me lerão quando o texto for publicado.

Então no meio dessa busca de assuntos relevantes me peguei pensando em como estamos acostumados a dar opinião sobre tudo o que acontece na internet. Se algo explode, é comum que todos os nossos conhecidos postem pelo menos um story sobre o assunto, seja dando sua própria opinião, seja compartilhando uma opinião da qual ele comunga.

E quando eu escrevo aqui sobre os mais variados assuntos não estou também dando meus dois centavos sobre algo? Graças a esse fenômeno maravilhoso da globalização que é a internet eu, assim como você, posso me colocar a prova do outro e escrever para o mundo todo na rede mundial de computadores.

O texto de hoje é um convite a reflexão sobre o que falamos na internet, sobre o que compartilhamos, mas principalmente sobre aquilo que também deixamos de falar e compartilhar.

Sinto que as discussões muitas vezes não saem da superficialidade do compartilhamento de um tuite, de um print, de uma frase falada fora de contexto e compartilhada via story. É como se o ato de compartilhar fosse capaz de dar um check na obrigação da militância do dia, sem precisar evoluir para a realidade de fato e para fora da bolha.

Quando a jovem Mariana Ferrer foi hostilizada pelo advogado de defesa do seu estuprador, toda a internet (pelo menos boa parte feminina da internet) se comoveu e expos sua indignação, porém me pergunto se no dia a dia esse feminismo é trabalhado por essas pessoas. Ninguém realmente não solta a mão de ninguém quando não precisa ser compartilhado?

Quando não tá rolando uma # de Black Lives Matter você se lembra de não ser racista? E o que significa não ser racista ou então ser antirracista… Creio que mais do que compartilhar uma fala, é importante ter essas perguntas em mente em nosso cotidiano, para que possamos diariamente nos fazer e nos lembrar de nosso papel enquanto seres humanos socialmente ativos.

Por isso, procurar entender um pouco mais sobre os diversos assuntos que estão eclodindo a nossa volta faz com que tenhamos uma bagagem muito mais sólida na hora de opinar sobre algo e compartilhar sobre aquele assunto na internet.

Depois de compartilhada, sua opinião pode esbarrar em outras pessoas e isso pode gerar debates e comentários com novas reflexões, o que faz da internet essa grande ágora de saberes e conhecimentos e isso é incrível!