Nos meses de junho e julho é comum encontrar pelas cidades do Brasil festejos típicos. São as chamadas Festas Juninas (ou Julinas). Nelas, os festeiros se caracterizam com roupas caipiras e são servidas comidas típicas do sertão ou de cidades do interior. A culinária é parte essencial do festejo e diz respeito à tradição do local onde a festa é realizada. Por exemplo, no Paraná é comum encontrar pinhão sendo vendido nas festas juninas, já em Pernambuco, é mais comum encontrar mugunzá. Enquanto isso, Minas Gerais oferece bolos de milho e mandioca, além de pamonha e curau – que acabam sendo comidas típicas dessas festas, independente de onde ocorram. 

          Além das comidas, as festas são caracterizadas por músicas tipicamente caipiras. Isso pode significar forró, axé, viola, sertanejo e outros estilos musicais, também de acordo com a região em que a festa ocorra. Além das músicas, há as danças. Geralmente elas são coreografadas, havendo grupos específicos que as realizam. São as chamadas “quadrilhas“. Em alguns lugares há competições desses grupos durante a festa, para ver quem fez a melhor coreografia. As quadrilhas são típicas das festas juninas escolares. A dança mais popular é o forró.

          Há ainda a parte de jogos e brincadeiras, onde são realizadas gincanas. Corridas em saco, pescaria, boca do palhaço e correio elegante são algumas das brincadeiras mais típicas. Mas há também o pau de sebo, argola, derrubando latas e diversas outras, também dependendo do local de realização da festa.

          Em locais específicos, como no Maranhão, algumas festas celebram também o Bumba meu Boi, que faz parte do folclore local. Já no Amazonas, as festas podem celebrar o Boto cor-de-rosa, por exemplo.

Mas por que as festas juninas existem? Elas são exclusivamente brasileiras? Por que ocorrem nesses meses e dias?

          As festas juninas surgiram no período pré-gregoriano (ou seja, antes da hegemonia da Igreja Católica por sobre a Europa) e eram realizadas no continente europeu para celebrar a fertilidade da terra e as boas colheitas. Isso ocorria porque lá junho é o mês do início do Verão, onde a colheita está ocorrendo de vento em poupa. Aqui, como junho é inverno, o principal símbolo da festa é a fogueira.

          Após a hegemonia da Igreja Católica, as festas continuaram a ocorrer, mas receberam o nome de “Joaninas“, por serem realizadas no dia do nascimento de João Batista, santo católico. A partir disso, a Igreja começou a utilizar a festa para celebrar três santos importantes, que nasceram no mês de junho. São eles santo Antônio, são João e são Pedro

          Como vimos, essas festas não nasceram no Brasil. Porém, foram trazidas a nós pelos portugueses, na época da colonização. Os indígenas e negros, que habitavam o Brasil na época, acabaram incorporando alguns de seus costumes à festa, que acabou sendo como muitas outras coisas do Brasil: um retrato do sincretismo e da miscigenação

          Apesar de as festas ocorrerem em todos os estados brasileiros, no Nordeste sua presença é mais forte, sendo consideradas parte da cultura local. Para o povo nordestino as festas juninas são sempre um grande evento, visto que celebram a cultura sertaneja, que em grande maioria habita essa região do país. 

          Devido ao tamanho e à grande quantidade de festas, elas acabam ocorrendo durante todo o mês de junho e julho. Porém, há três dias específicos em que sua realização é preferida, e são os dias dos três santos já mencionados (13, 24 e 29 de junho, respectivamente). No entanto, as festas que ocorrem em outros dias desses meses são tão legítimas quanto.

Mas por que esses santos são tão importantes para a Igreja Católica?

          Santo Antônio nasceu em Lisboa em  15 de agosto de 1191 e faleceu em Pádua, no dia 13 de junho de 1231, com 39 anos. Ele foi frade e passou por diversas congregações ao longo da vida, terminando sua trajetória como franciscano (congregação que segue os preceitos de são Francisco de Assis). O santo foi um grande orador, taumaturgo, místico e asceta. Escreveu muitas coisas e tinha sermões muito populares, que atraíam multidões. Como ele era familiarizado tanto com a literatura religiosa quanto com a profana, conseguia se comunicar com o grande público como poucos em sua época. Ele foi professor universitário e o primeiro franciscano a se tornar um Doutor da Igreja (título dado pelo papa vigente para pessoas de grande relevância nos estudos teológicos).

          Sua enorme popularidade entre os fiéis, principalmente de Portugal, são responsáveis pela fama e as festividades, que costumam ocorrer no dia de sua morte. O famoso “pão de Santo Antônio“, que é um pão bento geralmente oferecido à população no dia 13 de junho, é um símbolo que remonta a caridade do santo, que distribuía pães a quem precisava. O mistiscismo popular também é responsável pelas “torturas à imagem” do santo, como a famosa situação de deixar sua imagem de ponta cabeça até encontrar um marido. Pelo fato de ele ter realizado muitos casamentos, acredita-se que ele ajude nesta causa. Ele também é considerado padroeiro dos amputados, dos animais, dos estéreis, dos barqueiros, dos idosos, das grávidas, dos pescadores, agricultores, viajantes e marinheiros, dos pobres e dos oprimidos. Além disso, é invocado para achar coisas perdidas, conceber filhos e evitar naufrágios.

          No sincretismo religioso, ele pode ser conhecido como uma das manifestações de Exu (por causa da boa comunicação) ou Ogum (por abrir caminhos).

          São João Batista, por sua vez, nasceu na Galiléia, fruto de um milagre realizado por um anjo. Sua mãe, Izabel e seu pai, Zacarias, eram idosos, inférteis e nunca tinham tido filhos, mas queriam muito ter. Um anjo apareceu a Zacarias e disse que ele seria pai, mas o idoso não acreditou. Por essa razão, o anjo decretou que ele ficaria sem falar até o nascimento do filho, foi o que ocorreu. Izabel era prima de Maria, a que viria a ser mãe de Jesus, e recebeu a prima assim que o filho milagroso nasceu. João é considerado pelos cristãos o último profeta, que veio para preparar os caminhos do mundo para receber o filho legítimo de Deus, Jesus. Ele nasceu no ano 2 antes de Cristo, e faleceu no ano 27, decapitado. Sua cabeça fora pedida pelo rei Herodes, a ser entregue em uma bandeja de prata pela jovem e bela Salomé

          No decorrer de sua vida, João agarinhou seguidores, por causa de seus sermões que previam a chegada de um Messias, que posteriormente ele afirmou ser seu primo, Jesus. Por essa razão, João batizou-o, nas águas do rio Jordão. Após a morte de João, a maior parte de seus seguidores passou a seguir Jesus. A intenção do batismo não era criar uma nova religião, mas sim instituir esse sacramento na Igreja Judaica. A adaptação do batismo pela Igreja Católica ocorreu anos depois, por causa dos escritos sobre esse fato. 

          Tanto o dia de seu nascimento (24 de junho) quanto o de sua morte (29 de agosto) são comemorados pelos fiéis católicos das mais diferentes localidades e João é considerado um dos principais santos da fé católica. No sincretismo, João é considerado o maior profeta pelos protestantes batistas. Para o espiritismo, João Batista é a reencarnação de Elias (personagem do Antigo Testamento da Bíblia e da Torá). O Mandeísmo, por sua vez, cultua João como Messias. Já na Umbanda, o santo pode ser entendido como uma das manifestações do orixá Xangô ou ainda como uma entidade do Povo do Oriente. Os muçulmanos sunitas também consideram João como um de seus profetas e a Francomaçonaria o considera um de seus padroeiros.

          Por fim, São Pedro nasceu no ano 1 antes de Cristo, na Palestina e faleceu em Roma, no ano 67, quando tinha 38 anos de idade. Pedro foi um dos doze apóstolos (melhores amigos e seguidores) de Jesus e se tornou o primeiro papa da Igreja Católica. Foi um dos mais velhos a se juntar a Cristo, era pescador e irmão de outro apóstolo, chamado André. Inicialmente se chamava Simão e era bastante medroso, característica que Jesus punha bastante à prova. Em um determinado momento, Jesus disse que o nome dele deveria ser Pedro e que seria sobre essa pedra que sua Igreja seria construída. Por essa razão, Pedro tomou para si, após a morte de Jesus, a missão de fundar uma Igreja que seguisse os seus ensinamentos. 

          São inúmeras as passagens bíblicas que versam a respeito de Pedro. As mais marcantes expressam contrastes sobre sua personalidade. Por exemplo, na última refeição dele com Jesus, ele foi questionado da seguinte forma: “Pedro, tu me amas?” por três vezes e nas três respondeu afirmativamente. Pouco depois, quando Jesus foi preso e estava passando pelo Calvário, encontraram Pedro e o acusaram de ser um dos Apóstolos, também por três vezes. E desta vez ele negou em todas elas, cumprindo o que Jesus havia afirmado após ele dizer que o amava: “antes que o galo cante você terá me negado três vezes“. 

          Pedro não criou a Igreja Católica sozinho, teve também a ajuda de Paulo (razão para que o dia 29 de junho seja considerado dia de são Pedro e são Paulo). Paulo era um oficial romano que perseguia cristãos, até que ficou cego, recebeu uma iluminação divina, converteu-se e se tornou conhecido como um dos maiores autores do novo testamento da bíblia, que não conheceu Jesus vivo. Pedro e Paulo foram os responsáveis pela institucionalização da Igreja Católica, em Roma e, dessa forma, foram os responsáveis pelos primórdios da evangelização e por conseguirem mais e mais fiéis. Os dois faleceram no mesmo dia, razão para que sua celebração seja conjunta.

          Como Jesus disse que Pedro teria a chave do céu, é crença popular que ele seja responsável por controlar o tempo. Por essa razão, as mudanças climáticas são comumente consideradas “culpa de são Pedro“. Pela mesma razão, é de crença popular que após a morte a pessoa tenha um encontro com Pedro, que decidirá se abre ou não a porta do céu para que o indivíduo adentre. No sincretismo, Pedro pode ser considerado uma das manifestações de Xangô, por sua relação com as rochas e pela coragem – que mesmo não sendo inata, acabou surgindo e surpreendendo.

Não sou católico, posso mesmo assim ir à festas juninas?

         É claro que você pode! As festas juninas não existem por causa do catolicismo, como já visto e elas não excluem pessoas de outras religiões. Se os próprios santos que são lembrados no decorrer da festa são importantes para diversas outras religiões também, por que a festa seria descriminatória de algum modo? Na-na-ni-na-não! Principalmente no Brasil, a festa junina está muito mais atrelada à cultura popular do que à religião. Em alguns locais a religião sequer é mencionada no decorrer das festividades. Elas acabam sendo uma expressão popular do enorme sincretismo que compõe o Brasil, onde tem espaço para a cultura branca, a negra e a indígena. Então não tem problema uma festa junina não religiosa ou religiosa demais e tem menos problema ainda você não ser religioso e querer frequentar o ambiente! O que importa é manter o respeito e a tolerância frente a outras religiões, perspectivas, vivências e culturas sempre em pé e seguir curtindo a vida!

          Bom fim de junho a vocês!