“Foi no ano em que cheguei para o novo semestre e encontrei apenas um estudante inscrito para o curso “O Teatro de Ésquilo a O’Neill”. Pode imaginar, a bela estatua de gelo que era, derretendo-se ao sol? Lembro-me dos jornais morrendo como enormes mariposas. Ninguém os queria de volta. Ninguém sentia falta deles. E depois, o governo, percebendo-quanto era vantajoso que o povo apenas lesse sobre lábios apaixonados e murros no estomago, fechou o círculo com vocês, os comedores de fogo.”

A citação acima é do livro “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, publicado em 1953 em meio ao caos da Guerra Fria. No livro, Montag é um bombeiro, mas ao invés de apagar incêndios, a instituição serve para queimar coisas, mais precisamente livros. Isso porque, na distopia, acredita-se que eles fazem mal às pessoas, deixam-nas tristes, pensativas e infelizes, que é o contrário do que a sociedade vinha a querer.

Assim como Fahrenheit 451, outras distopias foram e continuam sendo escritas ao longo da história e suas singularidades acabam, muitas vezes, sendo comparadas as realidades vividas em diversas sociedades ao redor do mundo.

A droga de “Admirável Mundo Novo” para que as pessoas pudessem ser felizes em tempo integral ou os “duplipensamentos” de “1984” são alguns exemplos que facilmente poderíamos comparar à realidade vivida atualmente com a necessidade de externalizar uma vida sem defeitos nas redes sociais e as constantes idas e vindas das falas do atual presidente brasileiro que faz seu eleitorado ser fiel a ele em qualquer posicionamento.

Mas o que eu quero falar trazendo todas essas referências para o texto de hoje? Com a atual conjuntura política que o país tem vivido, é imprescindível entender a importância da ciência e sua existência, mas principalmente o consumo e conhecimento dela pela sociedade.

Estamos vivenciando o momento em que o primeiro grupo de pessoas começou a ser vacinado contra o novo coronavírus e mesmo havendo protocolos de segurança, estudos e toda ciência por trás da vacina, há uma porcentagem de pessoas que acreditam que ela não é capaz de imunizar e, ainda pior, acreditam que poderá causar mutações em quem a decidir tomá-la.

A partir do momento que esse tipo de pensamento toma proporções de massa é onde se acende o sinal de alerta sob os profissionais da saúde, pesquisadores e todes que se preocupam com a segurança da nação. Pois apesar de haver um contexto político diferente do vivido em 1904, com a histórica Revolta da Vacina, devemos estar atentos de como grupos políticos da atualidade vem conduzindo a população para descredibilizar a ciência e boicotar sua eficácia nas campanhas de vacinação.

Quando se está lendo uma obra distópica, pode até parecer distante da sua realidade o que está escrito ali, mas vale lembrar o que um dia ressaltou o autor de Fahrenheit 451: “Ficção científica é uma ótima maneira de fingir que você está falando do futuro quando, na realidade, está atacando o passado recente e o presente”.

É preciso se atentar ao presente e entender que todes fazemos parte da escrita da história que um dia alguém irá ler/ouvir/reverberar.

Boa sorte para a gente.